segunda-feira, março 01, 2010

O escritor que o Manolo não conhecia


Depois de quase duas décadas morando em Portugal, com uma data de livros publicados e alguns prémios na algibeira, não era de se estranhar que o meu nome fosse indicado para participar do Encontro De Pedra e Palabra, em Santiago de Compostela, organizado pelo PEN Clube da Galícia. E lá fui eu entre Scármeta, Nélida Piñon, Rui Zink, Paulo Seco e tantos que bem se sabia a procedência. Mas quem era aquele Mané entre os parêntesis do nome Jorge de tal, do Brasil entre outros parêntesis. Isso sim estranhou o organizador do evento que prontamente procurou o Manolo, pois em se tratando de artistas brasileiros, o Manolo é uma fonte, se não mais rápida, mais confiável que a Internet. Manolo coçou a cabeça, cofiou o bigode e garantiu com o seu português das origens: “Escritor brasileiro com esse nome, nom conheço!” E se o Manolo não conhece, não existe. Mas quem é o Manolo? Esse, todo mundo conhece e, se não, é fácil saber quem é. Basta procurar um pouco da boa história do Brasil e encontrá-lo à frente do Antonio’s, restaurante que viu o nascer da TV Globo, o florescer da Bossa Nova e muitas das aprontações do Roniquito. Como se não bastasse ser o dono do Antonio’s ainda foi o pau-para-toda-a-obra da directoria do MAM. Manolo estava certo. Eu como escritor brasileiro não existo. E como português? Bem… sinto-me como se fosse um português que se descobrisse jogador de futebol numa equipa brasileira ou como aquele japonês que toca tamborim na bateria de uma escola de samba. Um estranho sem ninho.

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