sábado, fevereiro 13, 2010

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

O Número E

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O Número E

O senhor Emanuel era orgulhosíssimo do seu nome por este ser o primeiro nome do Nosso Senhor Jesus Cristo. Mais cioso era com a letra “E” pois era ela que fazia a diferença com Manuel, muito mais comum em terras deste Portugal tão cristão, que queria dizer o mesmo “Deus é convosco”, mas que era uma corruptela. A letra E dava mais proximidade ao original, que ele nunca soube dizer se era aramaico ou hebraico, e soava melhor. Quando alguém por descuido lhe chamava “Senhor ‘manuel!” Ele prontamente endireitava com um gesto gelado: “E!” Tanto assim que nem se incomodava quando por picardia ou brincadeira chamavam-lhe de “E”. E assim ficou sendo o senhor E.
- Quem é o E?
- É o Manuel que mora no número três!
Era o chiste mais comum nas rodadas de sueca ou dominó. Ele aceitava com desportivismo. Numa madrugada, retirou a placa muito mal colocada pelo funcionário camarário e recolocou-a de cabeça para baixo, com todo o esmero. Mediu os cantos, centrou-a e chumbou-a muito bem chumbada para dissuadir qualquer tentativa de reposição. O carteiro não se atrapalhou. As gozações cessaram. E os poucos que notavam, imaginavam que poderia ser desatenção, ignorância, dislexia ou simplesmente que quem fez o serviço estava bêbado. Mas a ninguém aquilo incomodava, nem aos empregados da Câmara. E o senhor Emanuel rejubilava.

Mané do Café