segunda-feira, agosto 28, 2006

T'ES JOBARD


T'es jobard de venir au Tejo bar!

Só mesmo num sítio de malucos para se ter tamanha euforia apenas com água, apesar das pedras.

Na foto, Olívia e Sérgio em estado de graça.

AZINHAGA DOS BESOUROS


A Azinhaga dos Besouros (Pontinha, Amadora) está por estes dias a ser demolida casa a casa, por determinação da Câmara da Amadora. É um bairro que já alojou cerca de mil famílias, que foram em grande parte realojadas num outro bairro, não muito longe dali. Mas cerca de 50 famílias, consideradas excluídas do plano de realojamento, não tiveram qualquer ajuda. A quase totalidade dessas famílias é oriunda de Cabo Verde, Guiné ou outros países africanos, com muitos dos habitantes já nascidos em Portugal, e alguns a residir há mais de trinta anos no bairro. Em decorrência de um processo de listagem e levantamento das situações familiares e económicas deficiente, ou da desresponsabilização do Estado Português em certos casos, foram ignorados pela Câmara da Amadora, que demoliu a maior parte das casas e deixou acumular destroços, entulho, lixo e esgotos rebentados durante meses enquanto uma providência cautelar era examinada por um tribunal. Este decidiu a favor da Câmara que, curiosamente, já depois de o Governo ter manifestado preocupação e declarado a intenção de actuar em favor dessas e outras pessoas na mesma situação, apressou-se a mandar destruir o que resta do bairro. Sendo que este continua a ter gente que não tem recursos financeiros para ir para outro lugar. Sendo que se trata em muitos casos de famílias numerosas, ou a precisar de assistência médica constante. Sendo que não dispõem de familiares ou amigos em condições de os abrigar ou apoiar. Sendo que estão tomados pelo descrédito nas autoridades, o desalento, a frustração, o cansaço e em certa medida, e cada vez mais, a revolta. Uma revolta compreensível, uma vez que ninguém ali espera favores especiais ou esmolas, mas sim justiça social e igualdade perante um Estado para o qual contribuíram e contribuem, e o qual pouco ou nada retribuiu.
Esta revolta já se estende a quem conhece esta triste realidade, E quem desejar conhecer também o cenário de toda esta história, tem pouco tempo para o fazer, mas tem a possibilidade de ver e sentir um ambiente que mais parece situado no Médio Oriente, e uma atitude da autarquia que lembra um Portugal de outros tempos. Tempos em que os portugueses temiam, calavam por medo e emigravam às centenas de milhar, e em que não consta que tenham sido tratados por algum outro Estado desta maneira.
Contra as sementes de revolta pode haver sementes de esperança. Aqui fica o convite para ir conhecer esta realidade do Portugal de 2006. Para observar o cenário deste filme absurdo e real. Para imaginar o que poderá passar-se na cabeça de dezenas de crianças que vêem sem compreender, e a quem um dia alguém terá de explicar que País é este, que é também o seu.
Venha à Azinhaga dos Besouros. Vai ver que não esquecerá.

VENHA À AZINHAGA DOS BESOUROS !

Venha conhecer o maior espectáculo da actualidade nacional! o HIPER-REALISMO TRIDIMENSIONAL DA SENSIBILIDADE AUTÁRQUICA! a ACÇÃO DOS JUSTICEIROS DO ASFALTO, A ENERGIA DEMOLIDORA E O PODER fragmentador de quem quer, pode e manda!

É caso para cantar junto com Vinicius de Moraes
Era uma casa/Foi derrubada
Não tem mais tecto/Não tem mais nada
Ninguém mais pode/Entrar nela não
Porque na casa/Não tem mais chão
Ninguém mais pode /Dormir na rede
Porque na casa/Não tem parede
Ninguém mais pode /Fazer pipi
Já nem penico/Tem mais ali
Foi derrubada/Com um estouro
Na Azinhaga/Dos Besouros