sábado, novembro 12, 2016

Siammo tutti clandestini


Quando o Berlusconi ganhou a eleição, o Francesco Litti, então a fazer o Projeto Erasmus e freqüentador assíduo do Tejo bar, flipou de vez. Os pais foram a Lisboa e o levaram à revelia dos amigos que por ele zelavam. Os pais são os pais. Tentei  encontrá-lo em sua casa, em Florença para hipotecar a solidariedade dos companheiros de Alfama. Não o encontrei. Deixei à porta um bilhete e fui dormir na estação junto com alguns sem teto e imigrantes. De volta, ao passar pela Provença para recuperar as energias em casa da Monique Julien, uma espécie de santinha salvadora dos aflitos, fiz uma canção para o amigo que, ao que soube depois, já melhorava da piração. Dei à canção o nome de De Degun (em provençal: De ninguém).
Hoje, depois de levar com Crivela, continuar levando com o Temer e não podendo rir dos americanos que vão levar dom o Trump, resgato a canção que acabou por ficar conhecida por “Siammo tutti clandestini”.

quarta-feira, setembro 24, 2014

Xadrez ao quadrado

Xadrez apropriado para o Tejo bar. Desce redondo!


Porém, ganhe com moderação. Senão...


Fotos de desconhecidos, roubadas (ou emprestadas) da Net.

terça-feira, junho 25, 2013

Padre Emílio desbocado

Padre Emilio leu os versinhos que fiz para postar na internet por ocasião do povo nas ruas e que mostra uma foto da presidente Dilma no tempo em que era guerrilheira:

O Brasil desabrochou
Tão belo nunca se viu
E nem precisou da ajuda
Da Dilma com o seu fuzil


Tem gente que diz, agora
Que o fuzil não era dela
Ela diz que o tal fuzil
Era do amigo Dirceu
Parem lá com essa querela
Que esse fuzil era o meu

O padre riu, mas caçoou de mim por rimar 'viu' com 'fuzil'. Perguntei-lhe como ele rimaria 'il' e 'iu' e Padre Emílio, que tem excelente dicção e prima pela boa pronúncia, mostrou a sua verve repentista e saiu-me com esta:

Se quiser rimar Brasil
Com rima que ninguém viu
Rime com governo vil

Ou com a puta que o pariu

quarta-feira, junho 19, 2013

Padre Emílio protestante

Padre Emílio foi visto nas manifestações em Viçosa, vestido de branco e portando um cartaz que dizia “Em Obras”

quinta-feira, maio 30, 2013

Um xeque legal

Padre Emílio não é bom jogador de xadrez. Pouco pratica esse jogo no tabuleiro, porque na vida, joga muito. O tabuleiro só lhe mostrou uma jogada que, raramente, consegue aplicar, mas a vida há que levá-la com muita estratégia. Na cidade, só tem um parceiro, que é o Antônio Boticário. Isso, quando está de bem com o amigo, que além do xadrez, proporciona outros prazeres como o de poder ouvir a música de Bach, num estereofônico, acompanhada do chiado do vinil ou ainda bebericar um Porto. Pena que vivam trocando de mal por dá cá aquela palha, na maioria das vezes, divergências religiosas, ou melhor, divergência da religião com a falta dela, afinal o amigo é um ateu praticante e tão chato quanto qualquer fanático religioso quando embirra com algum dogma, mas, fora isso, é um bom papo e é por isso que nenhum dos dois se aprimorou no xadrez, pois usam o jogo apenas como pano de fundo para longas conversas. Tresantontem, apareceu na cidade um forasteiro desafiando todo mundo. Era difícil arranjar adversário, visto que ali são mais populares a sueca e o dominó. Os poucos oponentes que encontrou eram estudantes de fora. Da terra, só dois ou três lhe fizeram frente. Ninguém conseguiu bater o estranho que ficava cada vez mais gabola. “Na minha terra, todo mundo joga xadrez!” “Que mal pergunte, de que terra o senhor é?” “Sou duma terra em que todos jogam xadrez... olha o senhor padre!” Padre Emílio, de quem o fanfarrão já ouvira falar, vinha a passar e, rapidamente trataram uma partida que seria disputada numa das mesas de cimento da Praça da Matriz, devido às muitas pessoas interessadas em ver a contenda. A mesa quadriculada que geralmente só vê as pedras do jogo de damas, estava enfeitada com as bonitas pedras que o viajante trazia no alforje. Padre Emílio disse que, do xadrez, só conhecia os fundamentos e que pouco praticava. O oponente fez ouvidos de mercador e diz que a brincar ou a valer, um jogo é sempre um jogo e que na sua terra leva-se tudo muito a sério. Padre Emílio não queria jogar com a sorte. Quedou-se por um momento olhando para as duas mãos cruzadas do adversário estendidas para que ele batesse numa delas para ver quem começaria a partida e pediu para jogar com as brancas. Isto porque a única jogada fatal que o padre conhece é o Mate de Légal e este só se é possível aplicar com as brancas, por regra, as que dão a saída. “Uma questão de cortesia!” O outro resmungou “Na minha terra, a cortesia é sempre do anfitrião. Para o hóspede, tudo o de melhor! Mas como o senhor prior é um principiante, vou-lhe fazer essa delicadeza.” ficou com as pretas, mas escolheu o lugar à mesa. Padre Emílio levava com o sol na cara e não via a pequena multidão que se formou ao redor atraída, não pelo jogo em si, mas pela expectativa que foi gerada, muito por conta da fanfarronice do forasteiro. Até o Antônio fechou a botica e foi torcer, apesar de estar sem falar com o padre desde a Quaresma. Padre Emílio começou. Jogou o peão e2 para e4. Agora, restava-lhe, por incrível que pareça, a sorte de que o outro jogasse com as pedras que lhe permitissem desenvolver a armadilha criada por Kermur de Légal, em Paris, no ano de 1750. O oponente jogou o peão da casa e7 para e5. Padre Emílio deslocou o cavalo g1 para f3. A jogada das pretas foi rápida, o peão d7 para d6. Padre Emílio demonstrou indecisão e pegou no bispo f1 ao que o outro advertiu, “Lembre-se, senhor padre, que peça tocada é peça jogada. Faz parte dos fundamentos.” O padre anuiu com a cabeça e levou o bispo até ao quadrado c4. Quase se podia observar um sorriso na cara do estranho que rapidamente ameaçou o cavalo na casa f3 com o seu bispo da rainha na jogada c8 para g4. O padre pareceu nervoso. Fez menção de pegar o cavalo ameaçado, mas jogou com o outro cavalo indo de b1 para c3. O outro para não assustar a presa mexe na retaguarda lançando o peão g7 para g6. Até aí, as jogadas corriam a preceito e o padre, todo contente como criança que ganha um doce, come o peão e5 com o cavalo f3. O adversário até riu com tamanha infantilidade, pois com isso as brancas deixaram vulnerável a dama. Pegou no bispo g4 para comer a rainha, mal sabia ele, que este ato é uma condição sine qua non para a jogada centenária funcionar. Mas, aí, aconteceu o inesperado, o impensado... O falastrão das outras terras teve um ataque de compaixão. Um pouco aborrecido e um pouco desanimado alertou o padre com certo deboche nos gestos segurando o bispo “O senhor padre desprotegeu a sua dama! Assim eu como a rainha! Não quer voltar atrás?! Joga de novo. Eu deixo!” A vaca estava indo pro brejo! Agora o jogo estava mais para o poker. Padre Emílio assumiu um ar resignado e diz. “Paciência!” O outro insiste com a quase magnanimidade, “Se com a rainha já ia ser difícil para o senhor padre, imagina sem ela! Pense bem!” “Nada disso! Peça largada é jogada realizada! Também está nos fundamentos do jogo!” “Mas lhe faço uma concessão!” “Não precisa!” “Faço questão!” O padre coça a nuca e diz com a sinceridade do bom e aplicado aluno que quer aprender com o erro. “De outra vez, eu não caio mais nessa!” “Deixe de bobagem, senhor padre e arma de novo a jogada.” “Não. Como é que o senhor quer que eu aprenda sem seguir direito as regras?” Padre Emílio pega no bispo que está na casa c4 e fala com ele na mão. “Olha, até já toquei noutra peça! Pois termine a sua jogada e eu concluirei a minha!” “Não quero!” “Mas é sua vez de jogar.” “Farei outra jogada. Depois vão dizer que os da minha terra não sabem dar uma colher de chá ao adversário.” Com esta, o padre ficou sem argumentos. Com o bispo branco apontado para a cara do opositor diz em tom autoritário. “Agora você vai ter que comer a dama!” “Não sou obrigado!” “Vai comer!” Não vou!” “Ah, vai vai!” ”Não vou não vou!” A discussão descambou para a gritaria e mais parecia uma luta de esgrima cujos sabres eram o bispo preto e o bispo branco. A gritaria generalizou e chamou a atenção da polícia. “Que que está havendo aí?” O padre explicou ao sargento que se tratava de um jogo de xadrez e ele sabe como são essas coisas. Mexe com os ânimos. O sargento coça a cabeça. Se fosse outro que não conhecesse o Padre Emílio até se admiraria por ver um padre metido em tamanha confusão. “Já vi foi muita jogatina acabar em morte. Os senhores tomem tento!” “Ele quer que eu coma a sua pedra e eu não quero comer.” O militar toma pé da situação e procura mediar a questão. “E é obrigado a comer?” “Não, seu guarda, não é como nas damas.” “Então, seu padre, pega a pedra dele e sopra!” O policial deu a ideia e ficou por perto aumentando a torcida dos locais. Os jogadores trocaram mais uns golpes de espada até que o padre apelou.  “Sabe o que eu acho? É que o senhor é um egoísta que só quer saber do seu bel prazer. Não é por bondade que quer me dar uma nova chance é só para que o jogo fique interessante. “Não está preocupado que o adversário aprenda consigo, quer apenas que ele lhe dê luta.” “Pois, se é assim, vou comer sua rainha. Só não quero que digam depois que os da minha terra gostam de bater nos fracotes!” Depositou solenemente o bispo preto no lugar da dama na jogada g4xd1. O padre com uma mão tirou calmamente o peão f7 e com a outra põe o bispo branco no seu lugar encostando no rei dando-lhe xeque na jogada c4xf7+. O outro nem se incomodou movendo o rei para a frente indo de e8 para e7.


Mas, quando o padre pegou no cavalo na casa c3, o homem ficou amarelo e foi clareando clareando e, quando o padre pousou a pedra em d5, ele desapareceu como por encanto sem ao menos recolher as suas caras pedras. Quando o padre cantou a jogada c3-d5++ “Cheque mate!” já estava nos ombros do Antônio e do Gonzaga para ser conduzido em triunfo pela cidade.

sábado, abril 13, 2013

Padre Emílio


Padre Emílio teve que dar uma comunhão em situação extraordinária. O tempo urgia e não havia nem uma côdea de pão. O padre não pestanejou. Lançou mão de um tablete de chocolate meio amargo que, sempre que o calor permite, trás no bolso da batina. “Tomai e comei! Este é o Corpo de Cristo!” O moribundo olhou olhou... Não disse nada. Mas o padre Emílio arrematou. “É o sol da Galileia, meu filho!”

domingo, abril 07, 2013

Chávenas

Colecção de chávenas comemorativa aos 50 anos do Café Tofa. Os coleccionadores vão chorar um olho e remelar o outro por uma dessa.



quarta-feira, junho 08, 2011

Vila Morena (inteiro)

Agora pode assistir ao filme Vila Morena, de uma só vez.

sábado, maio 21, 2011

Vila Morena, agora de uma só vez.



VILA MORENA

Autores: Alice Rohrwacher e Alexandra Loureiro
DvCam, 36', 2005

Dele, assim disse Daniel Gomes:
"Existe um lugar, talvez o centro cultural mais escondido do mundo, talvez a sala de estar da Mira e Mané, talvez o local de conspiração de uma revolução, seguramente um bar. Vila Morena é pequena história da utopia que encontrámos no tejo bar: a utopia da construção duma nova família, ou da destruição da ideia de família, a utopia de estar juntos ou de estar sozinhos, mas juntos."

sábado, julho 24, 2010

Sinais de fumo

Acredita-se que o não à vontade demonstrado pelo entrevistador Miguel Sousa Tavares em seu programa televisivo seja devido ao facto de não poder fumar. Como fumador conheço bem a situação e dou uma sugestão para a qual fui alertado ao visitar um centro de macumba e notar que nele é proibido fumar excepto no local dos "trabalhos" senão,o que seria de certas entidades que descem apenas para matar a saudade do tabaquinho e aproveitam para ajudar a minimizar as mazelas das gentes? Assim como no terreiro, também nos palcos teatrais e nos "sets" de filmagens é permitido o fazer fumo, que o programa passe a ser gravado no palco de algum teatro, ou então que se faça a entrevista no "fumoir", pois lá não é proibido trabalhar, do contrário não teria quem limpasse os cinzeiros.

sexta-feira, março 12, 2010

Daimónico à solta


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Cantiga de escárnio e mal dizer com um pocochinho de humor negro sobre as batatas transgénicas, por Filomena, Isabel e Mané, que começou com o mote “Mortalhas de couratos e lombinhos de papelão”


Tais batatas, diz Bruxelas
São para dar aos suínos
E para fazer papel
Ora, o porco a gente come
E o papel também se fuma
Mas com tanta transgenia
Não demora muito tempo
A gente inverte a fasquia

Se o porco a gente come
Apesar da transgenia
Um dia há-de chegar
Em que o bicho grunhirá:
"Poupa-me, sou tua tia!"

Se o bichinho é minha tia
Não lhe vou passar a faca
Com prazer, isto faria
A uns certos filhos de vaca.

Misturados à manada
Não há sorte que nos valha.
Ainda que rejeitemos
Tais lombinhos guarnecidos
De couvinhas de Bruxelas,
Ninguém nos livrará - ó bichos -
De usar a mesma gamela!